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O que a Coreia do Sul tem a nos ensinar sobre democracia

Como uma tentativa de golpe sacudiu o governo sul-coreano

Manifestantes pedem a renúncia do presidente Yoon Suk Yeol em frente a Assembleia Nacional em Seul. Fonte: Korea Times. Foto: Shim Hyun-chul

A Coreia do Sul, um país que emergiu nas últimas décadas como potência global não apenas econômica, mas também cultural, impressiona o mundo com sua influência no cenário do entretenimento. Os doramas (novelas) e grupos de K-pop, como BTS e Blackpink, alcançaram milhões de fãs, tornando o país um símbolo de criatividade e inovação. Essa expansão cultural, conhecida como Hallyu ou “onda coreana”, ajudou a moldar a imagem da Coreia do Sul como uma nação moderna e progressista. No entanto, mesmo enquanto exibe ao mundo seu poder cultural, o país também enfrenta desafios políticos internos que testam sua jovem democracia.

Na terça-feira, dia 3 de dezembro, a Coreia do Sul sobreviveu a uma tentativa de golpe pelo presidente Yoon Suk Yeol. Em menos de 24 horas foi quase impossível entender o que estava acontecendo, nem mesmo com a velocidade das informações disseminadas pelas redes sociais. Um pronunciamento transmitido em rede nacional pelo canal de televisão YTN deixou a população sul-coreana atônita. Em seu discurso, Yoon implementou a lei marcial, que na prática transfere os poderes para os militares. Essa medida deve ocorrer somente em tempos de guerra, situações semelhantes à guerra ou outras emergências nacionais comparáveis. Contudo, não era o caso. Yoon falava em proteger o país da ameaça das forças comunistas norte-coreanas e acusava os partidos da oposição, especialmente o Partido Democrático da Coreia (DPK), de serem simpatizantes pró-norte-coreanos. Não havia qualquer sinal de uma ameaça concreta do país vizinho. Não estamos mais no período da Guerra Fria, onde esse discurso poderia ser facilmente usado. O espectro do comunismo não ronda só a Europa: ele aparentemente é retomado quando se busca encobrir escândalos de corrupção.

Não foi a primeira vez que Yoon fez declarações infundadas. Ele já havia acusado o parlamento – dominado pelo Partido Democrático da Coreia (DPK), oposição majoritária – de subverter os assuntos do governo por meio de pedidos de impeachment de ministros e outros funcionários de alto escalão. Desde que assumiu o governo em maio de 2022, a Assembleia Nacional apresentou 22 pedidos de impeachment. De acordo com a Constituição sul-coreana, a lei marcial pode ser revogada se uma maioria no parlamento assim o exigir. Embora os deputados tenham iniciado o processo para revogar a medida, o próprio presidente Yoon, que lidera o Partido do Poder Popular (PPP), revogou sua decisão antes que a votação tivesse impacto. Horas após a implementação da lei, pressionado por protestos populares e pelo caos político que se instalou, Yoon anulou a decisão, mas a tensão já havia desencadeado uma onda de manifestações em todo o país.

A televisão coreana mostra o pedido de desculpas de Yoon. Foto: Lee Jin-man/AP/dpa

No sábado, dia 7 de dezembro, Yoon fez um novo pronunciamento e pediu desculpas à população. Segundo ele, sua ação foi baseada no desespero. O pedido de desculpas veio antes da votação de um pedido de impeachment contra o presidente. Em um discurso transmitido ao vivo pela televisão, Yoon prometeu que não haveria “tal coisa novamente” sob sua liderança. Ele afirmou que assumiria a “responsabilidade legal e política” por suas ações e deixaria para seu partido decidir quanto tempo ele ainda deveria permanecer no cargo. O presidente do Partido do Poder Popular (PPP), Han Dong Hun, chegou a mencionar que uma renúncia seria algo inevitável, mas essa possibilidade não foi sequer cogitada no discurso de Yoon.

O pedido de impeachment fracassou porque não foi atingido o número mínimo necessário de 200 votos, em virtude de um boicote dos partidários do presidente, que abandonaram o parlamento no momento da votação. Apesar disso, novas propostas de impeachment já estão sendo cogitadas para a próxima semana. A pergunta que fica sobre essa crise é: quais crimes um presidente precisa cometer para que os mecanismos de controle da democracia funcionem efetivamente? Enquanto isso, seguimos acompanhando esta novela coreana – ou melhor, este dorama.


 
 
 

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